Essa história é quase real e quase fictícia!
Certa
vez, soube de uma pessoa, que se chamava Daniel, que não passava por bons
momentos. Descobrira uma doença grave e estava preso em uma cama de hospital.
Então,
compelido por um sentimento de compaixão, fui ter com ele.
O
nosso diálogo foi mais ou menos assim:
- Bom dia! – disse eu a ele, mas
não tive nenhuma resposta, como se eu também carregasse alguma culpa ou como se
a minha presença, ou de qualquer um, incomodasse.
- Como está se sentindo hoje –
continuei – fiquei sabendo que os dias não tem sido fáceis para você. Se te
consola, não tem sido fácil pra ninguém!
Nesse
momento, consegui a atenção dele, mas não do jeito que queria. Com cara
fechada, ele olhou para mim e respondeu:
- Não, não consola!
Nesse
momento, fiquei aflito, pois queria era ajudar, não trazer mais peso sobre a
vida dele.
- Desculpe – respondi – realmente
não devemos comparar as suas tribulações com as tribulações dos outros, afinal,
cada um carrega a sua própria cruz!
- Cruz!? – respondeu Daniel – Não
vem me dizer que veio aqui “pregar” pra mim, vai perder seu tempo! Se Deus existisse,
isso não teria acontecido!
- Pregar? Claro que não, só
queria ser solidário e saber se poderia lhe ajudar de alguma maneira – durante a
minha resposta, meus pensamentos já me afligiam, pois gostaria, muito, de
trazer paz para aquele rapaz.
Daniel,
ainda transparecendo raiva no olhar e na voz, continuou:
- Aliás, nem sei que você está
fazendo aqui, eu não te conheço e nem você me conhece, portanto, gostaria de
ficar sozinho. Até já me acostumei, tinha vários amigos, mas nenhum está aqui
hoje. Então, esse é o meu carma, morrer sozinho, sem ninguém.
Pareceu
o início de um desabafo, mas acabou por ali, não consegui mais nenhuma palavra
dele e não consegui dizer mais nada, pois percebi que o coração dele estava
duro como pedra e não adiantaria exercitar toda a minha argumentação, pois isso
só traria mais dor e sofrimento para ele e não o faria mais feliz, que era o
meu objetivo.
Com
sentimento de derrota, saí daquele quarto e fui embora. Não deixei de questionar,
pois achei, juro que achei, que o coração daquele homem poderia estar mais
preparado para receber a palavra de carinho e de apoio, afinal, muitas pessoas
são que se permitem mais nessas condições, de dor e de sofrimento, pois estão
mais suscetíveis a uma palavra amiga.
Eu
desisti, mas tem gente que não desiste!
Alguns
dias depois, mais uma vez me veio o sentimento de visitar mais uma vez aquele
rapaz. Confesso que estava com o coração desanimado, pois ele não era somente
um coração duro, mas também “cabeça dura”. Mas temos que ser persistentes, como
algumas pessoas por aí! (já, já, você vai entender).
Chegando
no hospital, fui até a recepção e pedi para visitar o paciente de nome Daniel,
Ala tal, quarto tal, etc., etc.
- Bem!? – interpelou a
recepcionista – ele não está mais nesse quarto...
- Recebeu alta – apressado respondi.
- Não – respondeu ela – foi transferido
para uma unidade de tratamento intensivo, o quadro clínico dele piorou e os
médicos acharam melhor transferi-lo.
Com
autorização, fui em busca de informações a respeito do Daniel e, conversando
com o Médico, percebi que ele não tinha muito tempo de vida.
- Posso conversar com ele –
perguntei ao médico.
- Você é parente? – me perguntou.
- Não – respondi – isso interfere
em alguma coisa?
- É que a presença de pessoas
queridas muitas vezes auxiliam na recuperação de pacientes e o Sr. Daniel só recebeu
a visita de uma pessoa até hoje, um tal de...
Nesse
momento escutei o meu nome. Aquilo soou como um grande peso em minhas costas,
pois realmente não conhecia o Daniel e ter sido o único a visita-lo me fazia
pensar se não era demais para mim, pois sou como qualquer pessoa, tenho
problemas e circunstâncias como qualquer um.
- Nossa! – respondi ao médico –
não imaginava isso! Mas pode deixar, trouxe uma turma que conhece ele para visitá-lo.
– disse isso sem planejar, saiu como se não tivesse sido eu.
- Devo lembrar ao senhor –
alertou o médico – que não permitimos mais do que uma pessoa no quarto, pois o
estado dele inspira cuidados!
- Não se preocupa Doutor – respondi
confiante – Pra tudo tem um jeito e o que vale é a recuperação do Daniel. Agora,
ele é a pessoa mais importante para mim.
Indo
em direção ao quarto, comecei a pensar o que falar e lembrei de algumas palavras
e histórias que poderiam animá-lo.
Quando
adentrei no quarto, vi o Daniel todo envolto a aparelhos, com beep’s tocando e
monitores ligados. Ele estava com os olhos abertos, mas não podia falar, pois
toda aquela aparelhagem o impedia de falar, mas era exatamente isso que o
mantinha vivo.
- E aí Daniel, como vão as
coisas? – típica fala de quem não sabe o que fazer. Como ele poderia
responder!?
Ele
me fitou com os olhos por um segundo e desviou para outra direção. Entendi que
não era exatamente bem-vindo naquele lugar.
- Calma Daniel – disse a ele –
não vim aqui para “pregar” para você, como você havia me dito na última vez – e
continuei a falar – quero somente te contar uma história de um amigo meu. Ele
te conhece, mas você não conhece ele.
Nesse
momento ele olhou para mim novamente e com um olhar de interrogação, como se
dissesse: “como assim, uma história? Ele me conhece e eu não conheço?”. Pelo
menos essa foi a minha interpretação.
- Isso mesmo Daniel, queria lhe
contar um pouco sobre esse meu amigo – e continuei - Ele é legal pra caramba e
está sempre comigo, me ajudando em tudo, seja nos momentos de alegria, como nos
momentos de tristeza – continuando eu disse - Um dia desses, conversando com
ele, ele me falou a seu respeito.
A
expressão do Daniel mudou de interrogação para surpresa.
- Ele me falou sobre as suas
dificuldades e de como a sua vida foi difícil e tals e que dia-a-dia você ia se
sentindo cada vez mais sozinho.
Daniel
passou da surpresa para um misto de curiosidade e susto. Ele parecia realmente assustado.
- Disse também que sempre quis te
ajudar, mais que vocês não tinham sido apresentados ainda e que não poderia
invadir a sua vida assim, sem que você realmente quisesse a ajuda dele.
- Então – continuei – eu descobri,
nesse dia em que conversávamos, que eu te conhecia.
Nesse
momento, Daniel olhou para mim com um olhar de “quem disse que te conheço”.
- Tá, beleza! Não é beemmm a
gente se conhece, mas confessa que já não sou um rosto totalmente desconhecido,
né? – expliquei – De mais a mais, o Doutor disse que somente um pessoa te
visitou até hoje.
Daniel,
meio forçado e com os olhos, parecia concordar e continuou com a atenção em
mim.
- Voltando ao assunto – tentando ser
menos formal – eu me dispus e me comprometi com esse amigo a apresentar vocês
dois. Ele é tão legal que acho que vocês vão combinar bem.
Nesse
momento, Daniel fez uma certa cara de desprezo, pois como na condição em que
ele estava poderia conhecer alguém e, ainda por cima, se dar bem com ela. Acho
que se a cova dele estive ao lado da cama, ele rolava para dentro, tão triste
era a expressão dele. Nesse momento, ele desviou o olhar para o outro lado,
como se olhasse para o infinito.
- Ele está aí – disse em tom
solene – ansiosíssimo para encontrar com você! Mas antes de chama-lo, deixa eu
falar um pouco dele para você.
Daniel,
torna a olhar para mim e volta a ter uma expressão de curiosidade.
- Há alguns anos – comecei a
contar – passava por muitas dificuldades financeiras e ninguém naquele momento
se dispunha a me ajudar e, pra falar a verdade, eu me sentia um incompreendido.
Daniel
continuava olhando.
- Voltava eu e minha esposa de um
passeio e dissemos um ao outro o quanto queríamos comer um “junk food”! Um
sandubão com tudo dentro – sorri nesse momento e a expressão do Daniel ficou
mais agradável – Mas não tinha um centavo no bolso e muitas contas para pagar.
Naquele momento, pensei que não tinha o direito a comer um sandubão!
Daniel
parecia mais curioso ainda, com uma expressão do tipo “o que tem isso haver”.
- Mas encontrei com esse meu
amigo – continuei – e conversa vai, conversa vem, falei do meu desejo de comer
um sanduba aí ele me convidou a comer um. Aí eu falei pro meu amigo: Tô sem
grana, não posso! Ele disse: comigo você não precisa de dinheiro, só tem que
confiar em mim, você confia? Eu disse: sim, confio. Resumo: comi eu e minha
esposa um dos melhores “junk food’s” da minha vida! Totalmente na faixa.
Daniel
= interrogação.
- Calma – continuei – teve um
outro dia em que eu, ainda apertado financeiramente, aliás, nunca deixei de
estar apertado – tentava passar um ar mais descontraído – tinha uma dívida que precisava
pagar de qualquer maneira, pois caso chegasse nos fiadores, isso os prejudicaria
enormemente em suas profissões.
Daniel
continuava curioso, mas eu tinha a sua total atenção, apesar de não poder dizer
nenhuma palavra.
- Eu tentava alguma estratégia
para conseguir saldar a dívida, mas tudo que tentava, fracassava. Esse meu
amigo, conhecia o pessoal da empresa, conhecia todos, por sinal. Conversando
com ele, ele me disse pra ficar despreocupado que ele ia resolver, eu só
precisava reafirmar a minha confiança nele. Eu disse: claro que confio, você é
um amigão. Ele foi lá e quitou a minha dívida e nem se preocupou com o tamanho
dela. Pra falar a verdade era bem grande a dívida.
Daniel
ficava cada vez mais interessado nas minhas histórias e parecia despertar cada
vez mais o desejo de conhecer esse meu amigo, afinal uma cara “pau pra toda
obra” não é fácil de encontrar.
- Essa foi mais legal – afirmei com
o Daniel – certa vez eu tive uma dívida minha perdoada. Assim mesmo, sem quê,
nem pra quê, a minha dívida foi perdoada. Imagina a minha felicidade – disse,
mostrando uma cara bem feliz para o Daniel e ele, por sua vez, tinha, pela
primeira vez, uma expressão mais tranquila – claro que comecei a fazer muitos
planos com esse dinheiro.
Nesse
momento, entrou uma enfermeira no quarto e estranhou a expressão do Daniel,
como se ela nunca tivesse o visto daquela maneira.
Depois
que ela saiu, continuei:
- Aí pensei, sabe! Vou comprar um
computador, vou comprar uma máquina fotográfica, vou comprar isso, vou comprar
aquilo. Lembra aquela história “na tristeza e na alegria” – uma pausa
estratégica – Pois é, lá estava esse meu amigo. Ele me contou a história de uma
outra conhecida em comum e me falou que ela, conversando com ele, tinha reclamado
das dificuldades da vida e que precisava de ajuda. Nessa, ele me convenceu a
ajudar essa pessoa e com esse dinheiro ajudei ela – olhei pra ele de forma
bastante incisiva – pensa num cara bacana!? Esse é o meu amigo, já já você vai
conhecer!
Daniel
prestava cada vez mais a atenção em mim e nas minhas histórias. Sou capaz de
afirmar que naquele momento ele se agradava cada vez mais de tudo aquilo e que
a curiosidade dele aumentava, e muito, para conhecer esse nosso “amigo em comum”.
- Lembrei de outra – continuei,
aproveitando a atenção cada vez maior de Daniel – quanto tive o meu primeiro
filho, não tive dinheiro comprar o colchão do berço, que, aliás, era
emprestado. Minha esposa e eu ficamos muito aflitos com isso e não sabíamos o
que fazer. As pessoas mais próximas também não podiam ajudar. Aí, no dia em que
saíamos do hospital, dou de cara com esse meu amigo, bem na porta e com o
colchão do berço na mão. Eu disse: Não acredito que você fez isso por mim! Ele
disse: Eu sempre disse pra você confiar em mim, então tá aí, cuide bem dessa
criança linda! – um suspiro meu e disse olhando para o Daniel – você consegue
imaginar o quanto eu sou grato a ele?
Daniel,
com a expressão bem mais tranquila, meio que afirmava com o olhar o que eu
acabara de dizer e, mesmo nos momentos em que o silêncio imperava, ele não
parava de olhar para mim, como se pedisse para eu falar mais, contar mais. A
curiosidade parecia enorme e o ar já não parecia de tristeza, mas sim de desejo
em conhecer essa pessoa tão parceira, tão bacana como eu pintava.
Então,
depois de alguns poucos segundos de silêncio por minha parte, eu perguntei ao
Daniel:
- Quer conhecê-lo?
Daniel
apertou os olhos e ficou com eles fechados um pouco mais, como se me desse uma resposta
afirmativa, afinal, um cara bacana como esse poderia, de alguma forma, trazer
mais ânimo para ele.
- Mas antes, devo alertá-lo que
ele não veio sozinho, trouxe uma galera com ele, pra fazer uma festa pra você.
Daniel
ficou ainda mais curioso, afinal ninguém havia ido ali até aquele momento para visitá-lo,
a não ser aquele estranho-conhecido que conversava com ele.
Com
a atenção do Daniel totalmente voltada para mim naquele momento, senti que era
a hora de apresenta-lo a esse amigo que tanto falara durante a nossa conversa. Olhei
para a porta e disse:
- Pode entrar por favor, ele quer
conhece-lo!
Imediatamente
Daniel olhou para a porta e o seu semblante mudou radicalmente. O seu rosto
ficou completamente irradiado de alegria e emoção. Depois do meu chamado, ele
em momento algum olhou para mim. Ele fitava os olhos em várias direções, como
se tivesse várias pessoas naquele recinto. Apesar de não entender bem dos instrumentos
médicos, percebi, pelo monitor, que os batimentos cardíacos dele aumentara. De
repente, ele não conseguiu mais segurar as lágrimas nos olhos. Aquele corpo
imóvel, que me fitava somente com os olhos durante toda a nossa conversa, começou
a tentar se mover, como se quisesse desesperadamente levantar da cama.
Nesse
momento senti que não teria mais a atenção do Daniel, afinal ele acabara de
conhecer esse amigo muito especial e eu confiava que ele, meu amigo, a partir
daquele momento, cuidaria do Daniel. Antes de “bater em retirada”, cutuquei o
Daniel e disse:
- Antes que eu me esqueça, o nome
dEle é Jesus Cristo, meu Senhor e Salvador, meu amigo, meu melhor amigo. Tenho
certeza que vocês tem muito o que conversar, abraço e fique com Deus! Fique com
Ele.
Daniel
olhou para mim, pela última vez, e me mostrou um olhar de alegria e de
agradecimento.
Nesse
momento fui embora e a última notícia que tive foi que ele havia se recuperado
de forma surpreendente e tinha muita alegria no seu olhar e, quando voltou a
falar, também em suas palavras. Dizem que ele sempre fala daquele dia, que
conheceu uns caras grandes, parece que um se chamava Miguel, um outro se
chamava Gabriel e mais alguns outros e que todos olhavam admirados para um tal
Jesus que visitara ele naquele dia. Fizeram muita festa, dizem!
Confesso
que não vi absolutamente nada entrando pela porta naquele dia. Mas senti uma
presença poderosa, que trazia paz àquele ambiente, esperança, alegria. Claro
que acredito que o meu amigo entrou por aquela porta, afinal, CONFIO NELE
INCONDICIONALMENTE!
Existem outros posts que podem edificá-lo e edificar outras pessoas, leia: